Por Maurício Nogueira
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou nesta sexta-feira (29) que o governo federal pode rever as medidas do pacote para conter gastos públicos anunciado nesta semana caso seja necessário. “Sim, se dali a dois, três meses, nós identificarmos riscos para essa trajetória, nós vamos ter que voltar para a mesa para verificar quais ajustes terão que ser feitos para manter essa trajetória", afirmou Haddad ao jornalista Luiz Fara Monteiro em entrevista exclusiva à Record. “Teremos que fazer isso, porque nós temos uma regra que foi apelidada de novo arcabouço fiscal, mas na verdade são regras fiscais. Como é que a despesa tem que evoluir, como é que a receita tem que evoluir, e como é que essa diferença entre receita e despesa tem que diminuir", acrescentou o ministro
Segundo ele, “hoje a despesa está acima da receita, o que não é bom para nós nesse momento".
“Então, se nós continuarmos fazendo com que a receita cresça acima da despesa, contendo a despesa, nós vamos ter um equilíbrio fiscal que vai garantir justamente essa trajetória virtuosa que o povo brasileiro quer: emprego, uma renda cada vez melhor em virtude do esforço que cada geração faz para estudar mais, para trabalhar mais, quer que isso seja feito de maneira sustentável. E é isso que nós estamos garantindo", frisou Haddad.
Vazamento de informação sobre isenção do IR
Na entrevista, Haddad disse que o vazamento de dentro do governo da informação sobre a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 na véspera do anúncio oficial foi a causa do ruído com o mercado financeiro.
O ministro declarou que a falta de informações adicionais gerou uma “leitura equivocada” do pacote fiscal divulgado pelo governo na quarta (27).
O ministro afirmou não saber a origem da exposição antecipada da informação sobre o IR. “Não adianta se queixar do mercado. ‘Ah, o mercado leu errado’. Cuida da comunicação, não deixa a informação vazar. Quando vazar, tem uma autoridade constituída para explicar, e aí você não vai ter problema. O que me contrariou é o fato de não ter sido explicado da maneira correta, é o fato de que você permitiu uma leitura muito equivocada do que estava sendo proposto”, criticou.
“Eu lamentei o vazamento. Eu não sei de onde vazou, mas é muito desagradável quando você não percebe o nível de responsabilidade do agente público no patamar exigido pelo seu mandato, pelo exercício da sua função”, acrescentou o ministro, ao cobrar mais responsabilidade das autoridades públicas.
“Você tem que ser muito cioso de que, quando você vaza uma informação de governo sem que a divulgação seja feita com a pompa e circunstância devidas, em respeito ao cidadão, você vai ter problema de leitura”, lamentou.
Na avaliação de Haddad, o vazamento foi mais grave que a apresentação combinada da ampliação da isenção do IR e do pacote do governo para redução de despesas.
“Pior do que ser divulgado conjuntamente, é ser vazada de véspera, porque aí ninguém entendeu. Quando vazou a informação de véspera, as pessoas começaram a misturar uma coisa com a outra. Por que o dólar recuou hoje? Em função das explicações que estão sendo dadas", analisou.
“Uma coisa é a reforma da renda, que é neutra do ponto de vista fiscal. Se dermos isenção para quem ganha menos de R$ 5.000, isso tem de ser compensado por quem ganha mais de R$ 50 mil e não paga, então tem que encontrar um equilíbrio. As medidas fiscais, não. Essas são para conter despesas mesmo. Aí a pergunta de alguns foi ‘como o governo manda medidas para conter gastos e manda isenção do Imposto de Renda? É uma contradição’. Na verdade, não existe contradição, são duas coisas completamente diferentes”, explicou.
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