Por Maurício Nogueira
A queda de braço entre o governo Lula e a oposição tendo como pano de fundo a elevação do Imposto sobre Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tem sido criticada a olhos vistos. O IOF, para muitos economistas, é uma medida de nivelamento, ou melhor de ajuste. Não tem como função precípua, fundamental, a arrecadação de impostos para o governo federal. A argumentação por parte do presidente Lula e agora também verbalizada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é que é preciso haver uma azeitada na relação com os líderes dos partidos no Congresso Nacional com cartas na mesa e equacionar a questão conjuntamente. Muitas vezes essa "azeitada" se traduz na conhecida frase e tudo o que está relacioanada a ela: "É dando que se recebe." A nefasta "barganha" que é a chave para destravar processos políticos, uma das habilidades do presidente Lula, que classifica como "negociação", de preferência sentado em volta de uma mesa e tomando cerveja.
Enquanto isso não puder se concretizar, a queda de braço, cujos os oponentes são os presidentes de Câmara e do Senado, que produz longa paralisação na política econômica, continuará a bloquear o desenvolvimento político-econômico. A economia continuará sem rumo no bojo de incerteza e falta de determinação de tomada de decisões. Ingredientes para arrebentar a corda lá na ponta mais frágil, a população, que, nada por acaso, já não aguenta mais tanto aperto fiscal doméstico.
E por citar a corda lá na ponta, pesquisa recente do Datafolha revela que 61% dos brasileiros acreditam que a economia está no caminho errado. Esse pessimismo é mais acentuado entre empresários (76%) e eleitores do PL (88%). Apesar de índices historicamente baixos de desemprego, há um aumento na preocupação com a inflação e a perda de poder aquisitivo.
Análises críticas
Até com crítica de fora já tivemos que nos deparar. A revista The Economist, em certo momento do passado cravou que o Brasil perdeu o “rumo econômico”. A publicação critica a política fiscal expansionista do governo atual, que resultou em um déficit fiscal de 9% do PIB e um aumento da dívida pública para 85% do PIB.
As críticas mais agudas partem de economistas como José Luís Fiori e William Nozaki. Ambos já alertaram que é possível recrudescer a estagnação prolongada e a destruição da indústria como riscos iminentes.
Os sempre ausentes planejamentos de curto e de longo prazo, eterno entrave de todos os governos e respectivas equipes econômicas, -- que traz aos brasileiros a imagem do cobertor curto que quando cobre a cabeça deixa os pés descobertos -- é cultural. Péssimo, porque afugentar o capital estrangeiro.
No momento, as exceções são as indústrias automobilísticas de veículos eletrificados que nos últimos meses têm anunciado implementação de fábricas montadoras do segmento chinês do setor. Um ponto importante e negativo.
A quantidade de empregos gerados deixa a desejar na produção de veículos eletrificados. De qualquer modo, os chineses estão animados com os crescentes índices de vendas no território nacional.
Enquanto isso, empresários brasileiros se reinventam com a eterna carga tributária estratosférica, só uma das diversas dificuldades para manter a firma em pé, sobrevive, aos trancos e barrancos, e convive com custos de matérias-primas de valores crescentes lutando, mas se sentindo impotentes para investir.
Os juros altos continuam a ser o remédio mais do que amargo. E Lula pode criticar o quanto for. Isso porque a inflação elevada não tem previsão para baixar. Pelo contrário.
Contrariando ainda mais o presidente Lula, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou na segunda-feira (02/06), durante evento com operadores e analistas do mercado financeiro, que a economia brasileira está demorando a responder com retração às taxas de juros reais próximas de 10%.
Segundo ele, a economia vem "apresentando uma resiliência surpreendente para o nível da taxa de juros que a gente tem”. Galípolo deixou escapar que, na verdade, o objetivo de sua atuação à frente do BC é mesmo provocar retração no país.
A missão continua a mesma, combater a inflação.
O conhecido economista Marcio Pochmann tem a percepção de que não dá para aceitar a ausência de um projeto nacional, destacando a dependência crescente do Brasil de uma pauta de exportação “primarizada” e a falta de discussão sobre um projeto nacional.
Em português, ops, traduzindo do economês, "primarizar" significa, no contexto empresarial, reverter a terceirização, trazendo de volta para dentro da empresa atividades que anteriormente eram executadas por terceiros.
A palavra também é empregada outros contextos, como no sentido de "prestar cuidados com carinho" ou "pretender curar com rezas e bênçãos".
No caso do Brasil essa última acepção já é recorrente para muitos agentes econômicos ou não econômicos. Imagine com o combo ainda integrado pelo desespero de parcela considerável da população também se sentir afundando no poço de areia movediça, imobilizado e com o sufoco já na região do nariz.
Aviso aos inimigos do desenvolvimento do Brasil, ou seja, uma certa parte dos políticos, a crença ainda é válida. A de que somente com foco no que realmente importa, vontade política, coordenação entre os poderes, reformas a vero, poderão sinalizar que ao menos poderemos alcançar o sentido da almejada retomada da economia, lenta, mas gradual. Para o bem de todos, para frente e para o alto. Perseverar é o caminho do sucesso, me desculpando pela rasa frase de autoajuda. Mas é o que nos resta.
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